10 de setembro de 2025
Estudo aponta que alfabetização de adultos pode aumentar renda em até 16%
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A educação de jovens e adultos (EJA) exerce um impacto positivo significativo na renda, ocupação e formalização no mercado de trabalho dos alunos que participam dessa etapa de ensino. Um estudo inédito revela o retorno econômico para aqueles jovens e adultos que, após não concluírem os estudos na idade adequada, decidiram retornar à escola em turmas de EJA.

 

O que é a EJA?

A modalidade integra a educação básica e oferece a oportunidade para aqueles que não finalizaram a escola na idade esperada retomarem os estudos e conquistarem o diploma de ensino fundamental e médio, em cursos com duração mais breve do que nas classes regulares.

  • MEC lança pacto para qualificar educação de jovens e adultos.
  • Analfabetismo de pessoas com deficiência é quatro vezes maior no país.
  • Três em cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais, indica estudo.

A pesquisa será lançada nesta quarta-feira (10), durante o Seminário Nacional de Educação de Jovens e Adultos: 1º Ano do Pacto pela Superação do Analfabetismo e Qualificação na Educação de Jovens e Adultos (Pacto EJA). O estudo visa “preencher uma lacuna importante na pesquisa sobre o tema” e fornecer subsídios para aumentar o investimento e o acesso da população a essa etapa de ensino. Essa análise foi encomendada pelo Ministério da Educação, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

 

Contexto Educacional

Nas últimas décadas, o Brasil expandiu significativamente o acesso à educação formal. A taxa de atendimento entre 6 e 14 anos, que abrange todo o ensino fundamental, alcançou 96,7% em 2010, comparado a 75,5% em 1991. Contudo, o estudo ressalta que as altas taxas de reprovação e evasão persistem, resultando em uma parcela dos estudantes que não completa os estudos na idade esperada ou que abandona a escola antes de concluir o ensino fundamental ou médio. Em 2023, por exemplo, 35 de cada 100 jovens brasileiros não haviam terminado o ensino médio até os 20 anos.

Para ingressar no EJA do ensino fundamental, é necessário ter pelo menos 15 anos; para o ensino médio, 18 anos; e para as turmas de alfabetização (AJA), a única restrição é a idade mínima de 15 anos. O estudo também identificou o público potencial para cada uma das etapas, levando em conta diferenças regionais, raciais e urbanas/rurais.

 

Impactos na Renda e Mercado de Trabalho

Desde a alfabetização até a conclusão do ensino médio, o estudo demonstra um aumento na renda dos estudantes após a participação e finalização da EJA, sendo que essa elevação varia conforme a faixa etária.

 

Alfabetização

Para aqueles que concluíram as classes de alfabetização, a renda média aumentou em 16,3% no grupo entre 18 e 60 anos. O impacto é ainda mais acentuado na faixa de 46 a 60 anos, ultrapassando 23%. Além disso, a AJA eleva a probabilidade de ter uma ocupação formal em 7,7 pontos percentuais (pp) e de conquistar uma ocupação de qualidade em 2,3 pp, considerando todas as faixas etárias. Uma ocupação de qualidade é caracterizada quando o trabalhador recebe ao menos um salário mínimo e trabalha até 44 horas semanais.

Ensino Fundamental

Para os que concluíram os anos finais do ensino fundamental pela EJA, a renda média aumentou em 4,6%. “Esse impacto é particularmente notável para o grupo de 26 a 35 anos, evidenciando um aumento de 14,9% na renda”, enfatiza o estudo. A finalização dessa etapa também incrementa a probabilidade de ter um emprego formal em 6,6 pp e uma ocupação de qualidade em 3,2 pp.

 

Ensino Médio

No caso da EJA do ensino médio, a finalização eleva a renda mensal em 6% em média para o grupo de 18 a 60 anos, em comparação àqueles que pararam no ensino fundamental. O maior impacto foi observado na faixa de 26 a 35 anos, com um aumento de 10% na renda média. A probabilidade de ter uma ocupação formal cresce 9,4 pp, enquanto uma ocupação de qualidade aumenta em 3,3 pp, com resultados positivos em todas as faixas etárias analisadas.

A autora do estudo, Fabiana de Felicio, ressalta que esses resultados evidenciam a importância estratégica da educação de jovens e adultos no Brasil. “Os expressivos grupos de pessoas aptas a cursar a alfabetização e as etapas da EJA, somados aos retornos econômicos positivos identificados, apontam para um grande potencial de expansão dessas modalidades de ensino. Os ganhos ao longo da vida justificam, sem dúvida, os custos de curto prazo do retorno aos estudos, especialmente para os grupos de idade mais jovens”, explica.

 

Oportunidades e Desafios

Ela ainda salienta que o investimento na EJA não só beneficia os indivíduos, mas também impacta o desenvolvimento social e econômico local. A importância dos secretários de educação e gestores em adotar uma visão estratégica em relação à modalidade é crucial. “O aumento da renda, da formalidade e da qualidade das ocupações não apenas melhora a qualidade de vida das pessoas, mas também colabora para a produtividade e a diminuição da pobreza e desigualdade”, conclui o estudo.

 

Pacto EJA

Implantado no ano anterior pelo MEC, o Pacto Nacional de Superação do Analfabetismo e Qualificação de Jovens e Adultos prevê a criação de 3,3 milhões de novas matrículas na EJA e a integração dessa oferta com a educação profissional, com um investimento projetado de R$ 4 bilhões nos próximos quatro anos.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há no Brasil 9,1 milhões de indivíduos com 15 anos ou mais que não são alfabetizados, o que representa 5,3% da população nessa faixa etária.