3 de setembro de 2025
Secretário dos EUA viaja ao México e Equador enquanto ameaça Venezuela
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O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio (à esquerda na foto), esteve no México nesta terça-feira (2) e depois seguirá para o Equador para debater estratégias de combate às drogas, em meio às ameaças de intervenção militar dos EUA na Venezuela.

A Casa Branca alega que o governo venezuelano lidera um cartel de drogas e, com base nisso, tem enviado navios militares para a costa do país caribenho.A acusação de que a Venezuela seria um “narcoestado” é rejeitada por especialistas em mercado mundial de drogas.

Em comunicado, o órgão equivalente ao Ministério das Relações Exteriores dos EUA informou que as visitas desta semana ao México e ao Equador abordarão as principais prioridades da Casa Branca, incluindo as questões relacionadas a “ameaças narcoterroristas”.

“Isso inclui medidas rápidas e decisivas para desmantelar cartéis, interromper o tráfico de fentanil, acabar com a imigração ilegal, reduzir o déficit comercial, promover a prosperidade econômica e neutralizar atores malignos extraterritoriais”, diz o comunicado.

Durante uma coletiva de imprensa nesta terça-feira (2), a presidenta do México, Claudia Sheinbaum (ao centro na foto), negou a possibilidade de a Casa Branca intervir diretamente no território mexicano para combater os cartéis de drogas do país latino-americano.

“Não aceitamos interferência, violação do nosso território ou subordinação, mas sim colaboração entre nações em igualdade de condições. É isso que colocamos na mesa e foi aceito”, disse a presidenta na tradicional coletiva matinal à imprensa.

 

Venezuela

O governo venezuelano afirma estar preparado para um possível ataque dos EUA. Em uma coletiva de imprensa para a mídia internacional nesta segunda-feira (1º), o presidente Nicolás Maduro declarou que os EUA posicionaram oito navios de guerra e um submarino nuclear, equipados com 1,2 mil mísseis, direcionados ao país sul-americano.

“É uma ameaça extravagante, injustificável, imoral e absolutamente criminosa e sangrenta”, disse Maduro, acrescentando que declarará o país uma “república em armas” caso seja atacada pelos EUA.

O presidente venezuelano afirma que esta é a maior ameaça enfrentada pelo país em um século e acusa o secretário Marco Rubio de tentar envolver o governo de Donald Trump em uma guerra na América Latina e no Caribe.

“Querem arrastá-lo para um banho de sangue, para que seu sobrenome, Trump, fique manchado de sangue para sempre. Com um massacre contra o povo da Venezuela, com uma guerra terrível contra a América do Sul e o Caribe, porque isso seria uma guerra generalizada em todo o continente”, alertou o chefe do Palácio Miraflores, em Caracas.

No início de agosto, Washington elevou para US$ 50 milhões a recompensa por informações que levem à captura de Maduro, acusando as autoridades venezuelanas de liderarem um cartel de drogas. Para Maduro, a luta contra as drogas é apenas uma desculpa para tentar alterar o sistema político do país, assim como Trump fez em seu primeiro mandato ao apoiar a autoproclamação de Juan Guaidó, então deputado, como presidente interino da Venezuela em 2019.

“As drogas produzidas na América do Sul são originárias da Colômbia, Equador e Peru, e saem principalmente pela costa do Pacífico. Apesar disso, Washington não enviou nenhuma frota para essas águas, revelando um claro padrão duplo”, ponderou o presidente venezuelano.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, reforçou sua crítica a qualquer intervenção militar contra o país vizinho, afirmando que isso também envolveria a Colômbia no conflito.

“Na grande pátria de Bolívar não pode haver nada além de soberania nacional; nem no Panamá, nem no Equador, nem na Colômbia, nem na Venezuela deve haver subserviência servil aos estrangeiros. A região deve coordenar sua política antidrogas com os estrangeiros em igualdade de condições”, afirmou em uma rede social.

Equador

Após visitar o México, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, segue para o Equador, onde deve se encontrar com o presidente Daniel Noboa (à direita na foto) na quinta-feira (4). Noboa lidera um governo alinhado com a política da Casa Branca para a América Latina. Ele planeja realizar, em dezembro, uma consulta popular para acabar com a proibição de instalar bases militares estrangeiras no território equatoriano.

Desde o desmantelamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) em 2016, o tráfico de drogas tem migrado para o Equador, que viu a violência relacionada ao narcotráfico explodir nos últimos anos. Isso fez a taxa de homicídios saltar de 7,8 por 100 mil habitantes em 2020 para 45,7 em 2023.

Nesse contexto, Noboa tem aumentado a militarização da segurança pública e declarou o país em “conflito armado interno”. Nessa segunda-feira, o governo mudou toda a cúpula militar do país sob a justificativa de fortalecer as Forças Armadas “nesta nova fase da guerra que livra o Equador do crime organizado”.

Bananas e cocaína

Durante a visita do secretário Rubio ao Equador, Maduro criticou a decisão dos EUA de colaborar com o país no combate ao narcotráfico, apontando que relatórios da ONU e da UE identificam o Equador como uma das principais rotas globais de cocaína.

O presidente venezuelano também relacionou Daniel Noboa ao tráfico de drogas, alegando que seu pai, Álvaro Noboa, dono da maior exportadora de bananas do Equador, tem vínculos com o setor.

A apreensão de cocaína em carregamentos de bananas equatorianas é frequente. De acordo com a Reuters, a polícia local acredita que cerca de 70% da cocaína contrabandeada seja transportada junto a carregamentos de banana.

“As empresas de Daniel Noboa, que é uma família exportadora de bananas, foram encontradas traficando drogas para a Europa. Metem cocaína nas bananas. Ah, isso não é dito. Por que se calam? Para que sejam governadores subordinados, títeres dos interesses do império estadunidense”, acusou Maduro à imprensa nessa segunda, em Miraflores.

Por sua vez, Noboa seguiu um programa de governo inspirado no modelo de El Salvador, com uma abordagem de “mão dura” contra o crime e o narcotráfico, sendo reeleito em abril deste ano para um mandato de quatro anos à frente do país sul-americano. Com informações: Agência Brasil