2 de setembro de 2025
Morre Mino Carta, fundador das revistas Veja e Carta Capital
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Faleceu nesta terça-feira (2), em São Paulo, o jornalista Mino Carta, aos 91 anos. Fundador e diretor de redação da revista Carta Capital, ele deixou uma marca na história do jornalismo brasileiro. O jornalista enfrentava problemas de saúde, com frequentes idas e vindas ao hospital, conforme relatado pela publicação que comandava.

Mino começou a carreira na revista Quatro Rodas, da editora Abril, especializada em automóveis, “mesmo sem saber dirigir nem diferenciar um Volkswagen de uma Mercedes, como se orgulhava de dizer”, contou a Carta Capital.

O jornalista ítalo-brasileiro, nascido em Gênova, mudou-se para o Brasil aos 13 anos, após a 2ª Guerra Mundial. Mino foi responsável por dirigir e lançar a revista Veja, em 1968, a IstoÉ, em 1976, e a Carta Capital, em 1994.

A revista Carta Capital é reconhecida por adotar uma perspectiva mais “progressista” nos acontecimentos, em oposição a publicações de tom mais “conservador” ou “liberal”. Seu objetivo declarado é se tornar “a maior referência em jornalismo progressista no Brasil, em qualquer plataforma”.

Mino também esteve na equipe fundadora do Jornal da Tarde, em 1966, e do Jornal da República, em 1979. Este último, criado em parceria com o jornalista Claudio Abramo, buscou aproveitar a abertura política iniciada pela ditadura militar, mas acabou não prosperando devido a questões econômicas e políticas. Segundo Mino, o Jornal da República “enfrentava oposição dos grandes jornais”.

Nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou com tristeza a morte de “meu amigo Mino Carta”.

“Em meio ao autoritarismo do regime militar, as publicações que dirigia denunciavam o abuso dos poderosos e traziam a voz daqueles que clamavam pela liberdade”, disse Lula.

Redes sociais

Em uma entrevista recente ao jornalista Lira Neto, no lançamento do livro “Memória do Jornalismo Brasileiro Contemporâneo”, Mino Carta criticou duramente a subordinação do jornalismo profissional às dinâmicas das redes sociais controladas pelas big techs.

Para ele, a internet limitou o jornalismo e passou a pautar os jornais. “Em lugar de praticar um jornalismo realmente ativo, na busca corajosa pela verdade, a imprensa está sendo engolida e escravizada pelas novas mídias. Veja a tragédia do celular. Com ele, o homem emburrece, não progride”.

Carta era um crítico do jornalismo corporativo, conhecido como “grande mídia”, e entendia que a independência editorial tinha seu custo.

“As revistas são, essencialmente, sustentadas por publicidade. Eu poderia estar muito rico, ter me vendido de várias maneiras. A única coisa que tenho na vida é esse apartamento que estou tentando vender, porque não tenho mais dinheiro”, revelou.

Futuro do Brasil

Mino Carta, ainda na entrevista a Lira Neto, afirmou que nem o Brasil, nem o jornalismo brasileiro, teriam alguma perspectiva futura de melhoria.

Este país não tem saída, graças aos que o governaram e à permanência de um pensamento medieval representado pela Casa-Grande”, vaticinou.

Casa-Grande se refere à elite escravocrata que colonizou o Brasil a partir de 1500, utilizando a escravização de africanos e a apropriação das terras dos povos indígenas, que também foram escravizados. O termo foi popularizado pelo sociólogo pernambucano Gilberto Freyre em sua obra “Casa-Grande e Senzala”, que buscou explicar a formação social do país.